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ser nenhum
Sou palavras na garganta, aquilo nunca dito e o que nunca direi. Sem coragem e sem ânimo, sou ócio cru, sem cor e harmonia. Tenho medo de tudo o que não conheço e não consigo prosseguir sem o meu caos, corro em direção a todas as luzes e nunca chego a lugar algum. Sempre tentando fugir, em alto-mar, desviando de todos os rastros deixados pelos temporais comuns. Sem direção e sentido, contínuo.
Monstros marinhos vivem aqui também, tão desconhecidos quanto eu [...]

em mim
22 setembro 2018

Me sinto pesada como se todas as pessoas deixassem suas pedras descartáveis em mim, e vazia como se fosse feita de folhas mortas. Eu sou outono, e posso ouvir o som dos ventos me rasgando a mente, cortando todos os meus pertences internos sem ter por onde vazar, ele fica preso e alguns ainda conseguem me fazer sentir as mãos quentes e o peito queimar, me faz parar de tremer e temer o frio que faz quando a noite chega.
Eu posso ouvir todos os sons que a noite traz consigo, toda a vida que ela convida como companhia. Posso recebe-los com o mesmo carinho e me agrada que vão me deixar apenas ao nascer do Sol. A claridade reflete na tua íris e me incomoda, meus olhos ardem e queimam como minhas mãos. Meus pés ainda estão gelados e não sei exatamente o motivo, nada aqui faz muito sentido ultimamente. Eu tenho andado pelas folhas e algumas me machucam apesar de eu amar as cores que o outono trás.
Não consigo entender muito bem como as coisas por aqui costumam funcionar.
Eu não sei para onde ir quando isso tudo acabar novamente...
17:49

12 julho 2015

Nota dois

Estou no quarto novamente, há duas semanas que não tiro o pé daqui. Tenho recebido algumas ligações, contas atrasadas para pagar e algumas pessoas que eu juro me esforçar para me lembrar o nome, sem êxito. Alguns amigos que não vejo a meses... não sei porquê ainda têm esperanças em mim, não vão me tirar daqui.

Há duas semanas atrás, decidi que iria comprar algo que me fizesse sentir viva. Eu não sabia o quê ainda, mas sentia que  deveria fazê-lo antes que o meu corpo começasse a se decompor lentamente. Pensei em diversas possibilidades: álcool, drogas, tinta. Voltei com um Cacto. Aquela coisa cheia de espinhos me custou pouco, mas parecia mais morto que eu. Apoiei sobre a janela, onde a luz pegava diretamente - e eu odiava -, arrastei um banco e me pus a encará-lo a espera de respostas.
"Por que você me faria sentir mais viva?"
Cactos tem aparência bruta e até um pouco perigosa, eu gostava de encostar meus dedos nos espinhos e esperar até que ele próprio me machucasse. Interiormente, são úmidos e sensíveis, os espinhos são a única coisa que tem para se proteger.
E ainda assim florescem. Os espinhos não machucam as flores e eles não precisam de muito para sobreviver. Guardam o que precisam dentro de si, e ainda com a aparência perigosa, mostram a beleza que são capazes de ter.
Eu, como nunca soube cuidar de mim, e a planta mesmo não precisando de tantos cuidados, morremos cinco dias depois.

Não precisamos de muito, mas morremos mesmo assim.

22:36

17 junho 2014

Another One Bites The Dust | ✖️ | via Tumblr

Nota um

O barulho dos carros, das motos, das vozes que ecoam meu apartamento, socam as paredes e ficam presas em minha mente. Tento manter a sanidade do corpo, mas quando temos tanto em comum com a solidão que habita junto a mim neste pequeno apartamento, se torna mais complexo.
Nada é tão bonito quanto os olhos tristes que vejo pela janela tanta gente carregando nas ruas. 
E nada tão sujo e podre quanto a troca de heroína por dinheiro que fazem nos becos escuros entre meia noite e uma e meia.
Esta noite, já tomei dezessete xícaras de café sem açúcar e continuo a contar quantas estrelas tem da locadora até a biblioteca. Duas ruas de infinitos pontos brilhantes. Duas ruas de olhos tristes. Duas ruas com três pontos de compra de heroína. 
Acendo meu cigarro e dou play.

16:59

31 maio 2014


E quando não nos restar escolha, quando não nos restar o que dizer nem o que absorver, faremos um pacto de suicídio duplo, combinado, eu e você. Não se preocupe com as roupas pela casa, nem com a brisa fria, não irá senti-la depois que nos abraçarmos e unirmos, seremos um só. Tu com teus olhos verdes e frios, e eu com os meus negros e desertos. Somos a combinação de dois vales escuros, dois corvos negros, mas tu, infinito. E eu? Eu nada.
E quando acho que não vale a pena, me perco em teus olhos novamente, e o suicídio me devora membro a membro, e te corrói quando digo que estou bem. E você está também. Para que algo dê certo, é preciso que tornemos sincronizados, equalizados, andemos no mesmo compasso.
temos tanto em comum
que temo
sermos só um
15:25

25 abril 2014


Caro Chapeleiro, há dias tenho lhe escrito, pois tenho em ti a esperança de um dia encontrar a salvação deste Reino voltar a ser o que era antes.
As rosas não mais vermelhas são, estão tomando a triste cor marrom, murchas e pelo chão. Os Às de Copas não estão mais a disposição de Vossa Rainha Vermelha e, esta, não a vejo sair de teu quarto a dias.
Ouço apenas som de ópera, um longo, baixo e tortuoso som que vêm do quarto de Vossa Majestade. Temo que o Coelho tenha se perdido no bosque, as cartas não chegam a ti, ou talvez tenha perco a hora, como sempre… 
Chapeleiro, se um dia chegares a receber tais cartas, pode já ser tarde, o céu (sinto falta de seu azul ciano, diga-se de passagem) está estampando a cor do sangue da grande Rainha, que não devia eu me impressionar, mas este escorre e molha todos os seres vivos restantes, que estão morrendo rapidamente. Os cervos estão extintos, caro Chapeleiro.
Eu, estou me manchando com este sangue também, diria que não poderei escrever por muito mais tempo, seria de grande sorte a minha conseguir sobreviver a mais uma semana. Sinto a tristeza me corroer e destroçar meus órgãos, a ópera é só o que me grita por dentro.
A vermelhidão da Rainha conseguiu deprimir até os peixes que vivem nos mais fundos rios, e os pássaros que mais ao Leste de nosso País tentam voar desesperadamente.
Todos nós buscamos o bem de nossa Rainha, mas agora, que todos estão soterrados pela indelicadeza das rosas marrons, percebo que a majestade havia sido assassinada há tempos, mas quando se tem um grande sorriso de Cheshire no rosto, não verão teu eclipse interno tão cedo, e então, foi tarde demais. Não mais poderemos ser salvos, morremos à disposição de Vossa Alteza.
12:14

09 abril 2014


Temo que a desordem não seja-me eficiente tanto quanto eu imaginava, meus olhos ardem, não consigo dizer nada. Voltei ao caos, ao sacrifício de ter que me levantar. Nunca sei o que dizer, nunca sei o que fazer, sou quase morta, não demonstro, não sinto, não vejo, não acredito. Tudo o que me sobrou foram a insônia e o medo. 
Tenho dito a mim mesma que, se depender de mim, não durarei muito mais, mas, se me esforçar, talvez consiga me recompor. Céus, tão confuso. Peço todos os dias por mais uma dose de coragem, estou em dependência. Não me servem mais o pijama, o chinelo, a touca e o corpo, tudo grande de mais pra mim, ou eu pequena de mais pra tudo. 
Desculpe, cher, não tenho a quem recorrer, sinto-me em transição de vida à morte, regredindo lentamente de acordo com o vento, e as chuvas muitas vezes me traz flores, e pede-me um pouco de tempo emprestado, para que possa se recompor também. Sinto muito por ela, também tenho dias de temporais, porém estes são mais frequentes e cada vez mais fortes. Ela só garoa, e eu temporal.
Tenho muito tempo e tempo nenhum, ando devagar com medo de escorregar, mas... nunca sei o que dizer.
Nunca sei onde pisar,
nunca sei o que fazer e pra que lado o vento sopra.

16:24

As chuvas:

Este blog foi criado com o intuíto de ser eu mesma. Os temporais são fenômenos naturais que ocorrem dentro de cada um de nós, em mim, com mais frequência. Cada um tem de aprender a controlar seus temporais e tentar não se afogar, com calma para pensar e vontade para viver, desviando dos obstáculos que as chuvas trazem e curando as feridas causadas pelos estragos.
Boa sorte à nós.



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